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Será a Clio a primeira legaltech a fazer uma oferta pública de ações?

By Helder Galvão on

A Clio, plataforma canadiana de gestão para advogados, anunciou recentemente uma ronda de investimentos Série F, no total de 900 milhões de dólares e investidores do calibre da New Enterprise Associates (NEA), Goldman Sachs, Sixth Street e CapitalG. O número, que é brutal, já tinha chamado a atenção do mercado na ronda anterior, cuja valuation praticamente dobrou, agora em torno de três mil milhões de dólares.

Mas o que será que tem a Clio?

Em entrevista para o famoso blog de Bob Ambrogi, o fundador, Jack Newton, apresentou números interessantes. Em primeiro lugar, uma receita recorrente anual de 200 milhões de dólares. Nada mal para uma legaltech num mercado cada vez mais saturado no que se refere a serviços na nuvem e com plataformas com cada vez mais simetrias. Grande parte dos clientes da plataforma são as pequenas e médias empresas, cujo valor é do interesse da Clio. Somente nos Estados Unidos, são mais de mil escritórios de média dimensão, sem contar os milhares de profissionais liberais, e cujo software é recomendado por centenas de associações locais, ou seja, NPS no seu mais alto grau.

A expansão para outros mercados, como a Ásia, evidentemente chamou a atenção dos investidores. Mas outro detalhe é mais representativo: o pioneirismo da Clio em desenvolver e, claro, apostar, na tecnologia jurídica em nuvem, quando tudo ainda era rudimentar. Diga-se que esse movimento foi muito parecido com a da Salesforce, ou seja, o first mover é uma característica clássica dos empreendedores visionários. Vale a pena relembrar que a Clio foi uma das primeiras legaltechs do mercado, fundada há quase duas décadas. Ou seja, antiguidade, aqui, é posto.

Outro movimento relevante é o dinamismo da Clio em se adaptar às exigências do mercado jurídico. Novas ferrramentas foram desenvolvidas, como a “Clio Duo”, um assistente jurídico de IA generativa integrado em todos os seus produtos. O “Clio Manage” e o “Clio Draft”, este incorporado através da aquisição de outra legaltech, a Lawyaw. Recentemente, foi anunciado o “Clio Payments”, uma plataforma de meios de pagamentos.

Como se vê, temos três fatores típicos dos bem-sucedidos: “matar” o negócio constantemente, na velha máxima Schumpeteriana, além da aquisição de outras empresas menores e atraentes, que lhe darão uma vantagem competitiva, sem perder tanto tempo com pesquisa e desenvolvimento e, ainda, no modelo de one-stop-shop, afinal o advogado poderá ter tudo o que precisa, num único lugar.

Não se pode perder de vista, ainda, que o mercado jurídico é um dos que mais crescem quando se está em jogo os interesses de fundos de venture capital global. Aqui, temos um modelo de negócio fértil, baseado em plataformas SaaS e, ainda, no B2B. Sem contar que países como a Índia e Brasil possuem um backlog de mais de cem milhões de processos cada. A hiperjudicialização, aliado ao facto de um datalake gigantesco, tem provocado uma tempestade perfeita para o match entre esses fundos e a Clio. Daí que se justifica, também, a captação recorde.

E por falar em match entre os fundos de venture capital e a Clio, Newton comenta que a entrada da NEA como investidora nesta última ronda, inclusive no board, ajudará bastante no movimento de um futuro (próximo) IPO. A própria Salesforce teve a NEA no captable quando fez a sua oferta pública de ações.

Contudo, o cofounder assegurou que a Clio, neste momento, poderá dar-se ao luxo de não abrir o capital, tendo em vista ter mais de cem milhões de dólares em caixa. Mas tratando-se de perenidade, outra característica típica dos founders “fora da curva”, certamente a abertura de capital está no horizonte.

Este escriba não duvida: a Clio será a primeira legaltech a fazer uma oferta pública de ações.

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