16.03.2022

A dependência, as sanções e a transição energética

Data da última atualização: 16 de março 2022

A tensão no mercado energético era facilmente antecipada: a Rússia é uma das maiores exportadoras de petróleo, de gás natural e de carvão e a União Europeia é dependente do fornecimento de energia, tendo em 2020 importado cerca de 57,5% da sua energia (sendo 32% da energia consumida proveniente de produtos petrolíferos, cerca de 25% do gás natural, 18% de fontes renováveis e 13% da energia nuclear).
Sendo este um mercado especialmente reativo à incerteza, após a invasão e a aplicação de sanções à Rússia, as preocupações confirmaram-se e os efeitos verificaram-se de imediato. O petróleo em pouco mais de uma semana atingiu os valores mais elevados dos últimos 14 anos, o que determinou o aumento do preço dos combustíveis líquidos (gasolina e gasóleo). Verificou-se igualmente um aumento do preço do gás natural, o que, por consequência, afetará o da eletricidade.
Como nos encontrávamos em défice de oferta e numa rota ascendente de preços no rescaldo da pandemia seria expectável que esta realidade se mantivesse até que os circuitos económicos destas matérias-primas estabilizassem e a incerteza diminuísse. Porém, e não obstante a renovação das sanções aplicadas à Rússia neste setor no dia 15 de Março (proibidos novos investimentos no setor da energia, e exportação de equipamento, tecnologias e serviços destinados ao setor), o barril de Brent retomou os níveis anteriores à invasão o que pode levar a uma correção dos preços.

Esta diminuição dos valores decorre do otimismo verificado no mercado devido a um possível acordo nuclear com o Irão, que resultará num aumento do petróleo em circulação, já que os Estados Unidos manifestaram intenção de não punir a participação russa em projetos nucleares com aquele país.

O mesmo se verifica quanto aos preços da eletricidade e do gás natural.

Por consequência, e uma vez que a União Europeia estabeleceu objetivos ambiciosos que revelam a intenção de reduzir a sua dependência energética, esta deverá manter os propósitos de descarbonização e de transição para as chamadas energias limpas em linha com o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal). As últimas declarações de Ursula Von der Leyen, a propósito da iniciativa RepowerEU (ação europeia conjunta para uma energia mais acessível e segura), apontam para uma possível aceleração deste processo.