O que se espera do mercado das Legaltechs em 2025? Evidentemente que se trata de uma indagação. Afinal é proibitivo estabelecer uma afirmação ou ser categórico quando se trata da tríade futuro, tecnologia e Direito.
Esse exercício, contudo, é comum a cada novo ano e assunto preferido dos futuristas, quando publicam os seus prelúdios.
É o exemplo da norte-americana e espécie de guru dos futuristas, Amy Webb. Segundo o seu top 10, o ano de 2025 será o do “superciclo tecnológico”, a ser designado como “explosivo” e impulsionado pela convergência de diversas tecnologias emergentes.
Segundo Amy, essa “tempestade perfeita de inovação” não só impulsionará o progresso, como transformará (ainda mais) o modo como vivemos, trabalhamos e nos conectamos. O ano será tão abundante em matéria de tecnologia, que já se compara com o impacto da época do surgimento da eletricidade ou da internet. O resultado, por sua vez, será uma nova onda de disrupção económica e social e a criação de setores inteiramente novos.
No que toca ao Direito, o que poderá causar maior impacto será o advento dos denominados PLAMs, CLAMs e GLAMs. Depois dos LLMs, os LAMs (Large Action Models), que não se limitarão apenas a determinar o que deve ser dito (como faz hoje o ChatGPT, por exemplo), mas o que deve ser feito.
Otimizados para decisões em tempo real, os LAMs utilizam dados comportamentais e ambientais, como aqueles gerados ao conduzir, ter reuniões, audiências ou redigir contratos. Três variações emergirão: PLAMs (para ações de pessoas físicas), CLAMs (para empresas) e GLAMs (para governos), adaptando-se às necessidades específicas de cada emissor. Daí que, no caso dos advogados, será uma tendência explorar as PLAMs para a criação de teses e estratégias jurídicas.
Se, então, estiver em curso uma disputa societária, de modo que um sócio minoritário pretenda exercer um direito de recesso, a própria IA, baseada nesse modelo, poderá contribuir para a criação de uma tese robusta, lastreada na legislação, recomendação de juristas (literatura legal), perfil do advogado (e a sua data base) e em precedentes judiciais.
Outro movimento interessante para o presente ano será o que se convencionou de chamar de “estranhas alianças tecnológicas como um novo normal”. É que inusitadas alianças tecnológicas a serem concretizadas tornar-se-ão uma espécie de padrão.
A futurista norte-americana cita o exemplo da AWS re:Invent, quando a Apple surpreendeu ao anunciar o uso dos chips Trainium 2 da Amazon, de modo a sinalizar para o mercado uma confiança estratégica na AWS em meio à competição com Microsoft Azure e OpenAI. Enquanto isso, a Amazon e a Anthropic colaboram no Rainier, um cluster de IA massivo. O futuro da IA, portanto, estará diretamente ligado à nuvem e à computação, com mais interações e negócios entre Azure, AWS e Google Cloud esperadas em breve.
Nesse sentido, um prato cheio para fusões e aquisições, joint-ventures, situações de conflito de interesses, formação de oligopólios e forte atuação dos órgãos concorrenciais. Vão surfar a onda, portanto, os advogados de Direito da concorrência, regulatório e empresariais.
Já na área de ESG, dois desafios principais e antagónicos: o primeiro no que se refere aos eventos climáticos, que impulsionarão a inovação tecnológica. É o caso da adoção de tecnologias de materiais de baixo carbono e a dessalinização solar acessível, baixando o custo do mercado de energia elétrica e estimulando ainda mais o mercado de veículos baseados nesta tecnologia. Ponto para a dita energia limpa e renovável.
Porém, a energia nuclear voltará a ser explorada em larga escala, com os chamados Small Modular Reactors (SMRs), em razão da crescente demanda energética da IA. Empresas como Microsoft, Google e Amazon investirão em SMRs para descarbonizar data centers e garantir energia de forma escalável. Inclusive, anunciaram a instalação maciça desses equipamentos.
Por outras palavras: não faltarão desafios para os advogados que operam no setor. E, assim como nos exemplos anteriores, são temas que já estavam em pipeline desde 2024 e que confirmarão o seu protagonismo para 2025, bem como a exigência de profissionais cada vez mais multisetoriais.
E no que se refere a estes profissionais do mercado jurídico, a FGX, agência brasileira especializada na gestão estratégica de escritórios, aponta como tendências para este ano, outras três frentes.
A primeira, intitulada como “IA vertical”. Os modelos tradicionais, como os da OpenAI e Google, chamados de “horizontais”, são moldados para atender um público amplo e que deixam a desejar em termos de precisão. No entanto, no mercado jurídico, prevalecerá o modelo vertical, com a adoção de soluções mais específicas e personalizadas. É o exemplo das plataformas de geração de relatórios e de contingências tributárias, inclusive de forma visual e mais assertiva, de modo a trazer uma experiência mais simples, funcional e económica para os clientes, principalmente àqueles que buscam maior accountability perante os seus investidores.
O segundo case será pelo protagonismo do business development. Este deixará de ser uma prática pontual e dentro de uma estrutura clássica, para se transformar e passar a exercer maior protagonismo, inclusive no board.
Por fim, a terceira tendência será pelo “cliente concorrente”. Com a adoção em larga escala das ferramentas de IA e maior maturidade, muitas empresas internalizarão (ainda mais) as suas demandas, competindo com os escritórios. Segundo a FGX, a adoção de parcerias estratégicas será o caminho. A propósito, sobre esse tema, o curso “In-House 4.0”, a ser lançado pelo Instituto de Conhecimento, será uma ótima resposta a esta demanda.
Como se vê, portanto, os futuristas, embora exerçam a difícil tarefa de futurologia, podem ter acertado no alvo, pelo menos nas tendências aqui destacadas, afinal todas já vinham em desenvolvimento. A piada pronta, no que se tornou um cliché, é a suspeita de que tenham usado alguma inteligência artificial generativa para traçá-las.